Olá pessoal, estamos chegando na
reta final de postagens no AVM, e esta postagem será feita em dupla, e minha dupla é a minha
amiga e também colega de sala Sulian Luisi. Vamos falar hoje de morfema zero,
alomorfia e processos morfológicos.
Já vimos aqui conceitos de morfema
e como identificá-los, mas você sabe o que é um morfema zero? Podemos dizer que
é uma ausência significativa, um morfema que não existe, deixa seu espaço
vazio, mas este espaço tem uma função dentro da palavra quando a comparamos com
alguma outra em um recorte sincrônico.
No português existem dois casos
clássicos de morfema zero que são o singular e o masculino, que não são
marcados, logo são exemplos de morfema zero. Observe estes exemplos:
Professor-0 > Professor-A Menina-0 > menina-S
Mestre-0 > Mestr-A Feliz-0 >
Feliz-ES
Nestes casos podemos perceber que
comparadas com outras palavras, nos encontramos a presença do morfema zero.
Vamos falar agora de alomorfia,
sabemos que no português a forma predominante de plural é o {s-}, mas este {s-}
pode ter alomorfes, que são a variação deste mesmo morfema; como diferentes
formas de exprimir uma mesma idéia, o plural nesse caso. Veja só:
Casa-S
Feliz-ES Menina-S Cantor-ES
Nos quatro exemplos, o {-s} e o
{-es} exprimem a idéia de plural de formas diferentes, com o morfema {-s} e seu
alomorfe {-es}.
Com esses exemplos nós entendemos
bem o que é alomorfia, mas você se lembra que falamos anteriormente sobre raiz
e radical? Quero saber se pode haver alomorfia de raiz?
A resposta é SIM! Observe o verbo FAZER, raiz: {faz-}
PRESENTE
PRET. PERFEITO
PRET. IMPERFEITO
EU
faço
fiz fazia
TU
fazes
fizeste fazia
ELE
faz
fez fazia
NÓS fazemos fizemos fazíamos
VÓS
fazeis
fizestes fazíeis
ELES
fazem
fazem faziam
Conjugando o verbo nos tempos
presente, pretérito perfeito e pretérito imperfeito do indicativo percebemos
que a raiz mais freqüente é {faz-}, mas aparecem também outras formas de raiz,
que são os alomorfes da forma {faz-}: {faç-} {fiz-} {fez}
Entendendo todos esses conceitos,
vamos falar um pouco sobre processos morfológicos; que são, segundo Petter a
associação de dois elementos mórficos que produzem um novo signo lingüístico.
Essas associações ocorrem de diferentes formas nas línguas do mundo. Os
processos morfológicos se manifestam de 4 formas:
a) ADIÇÃO:
Quando é adicionado à base ( raiz ou radical) um ou mais morfemas. Ex:
IN – FELIZ – MENTE
Foram adicionados dois morfemas,
um prefixo e um sufixo, afim de formar um novo signo lingüístico, com o
significado oposto ao da raiz.
b) REDUPLICAÇÃO:
Repetição de fonemas da raiz, com ou sem modificações. No português indicam
carinho. EX:
PAI > PAPAI
MÃE > MAMÃE
·
Em seu texto, Petter mostra um exemplo do Piding
da Nova Guiné, onde este fenômeno indica intensidade, por exemplo :
LAPUN > LAPUNPUN
(velho) (muito velho)
c) ALTERNÂNCIA
: é a substituição de segmentos da raiz por outros, de forma não-arbitrária.
Ex:
Fez/Fiz Some/Sumo Pôs/Pus
d) SUBTRAÇÃO:
Eliminação de segmentos da base para expressar um valor gramatical. Exemplo do
francês:
FEM MASC
TRADUÇÃO
movez
move mau
led le feio
Hoje nosso gênero para análise será musical! Escolhemos uma
música do Cazuza, Exagerado, creio que todos conhecem, mas eis a letra:
Exagerado
Cazuza
Amor
da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade
Paixão
cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Eu
nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
E
por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
E
por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Vamos analisar algumas
palavras? Podemos ver o morfema zero, onde a ausência marca o singular, em
várias palavras, como: amor – 0, eternidade – 0, exagerado – 0, jogado – 0,
carreira – 0, entre tantas outras.
Já na questão de alomorfia, do
morfema do plural, por exemplo, podemos ver em, por exemplo, destino{-s}, onde
o morfema que marca o plural é o morfema {-s}, mas se, por exemplo, a palavra
amor estivesse no plural, seria amor{-es}, havendo uma alomorfia do morfema {-s} para o morfema {-es}, mas ambos representam a mesma característica, o
plural. Para o plural com morfema {-s} podemos identificar várias palavras:
pé{-s}, destino{-s}, coisas{-s}, roubadas{-s}, etc... já com o {-es}, podemos
indicar também paixõ{-es}.
Podemos trabalhar com a
alomorfia de raiz com o verbo trazer, que
na música aparece como “trago”. Vamos conjugar? Somente conjugando no presente
do indicativo dá para ver a alomorfia presente já.
EU trag-o
TU traz-es
ELE traz
NÓS traz-emos
VÓS traz-eis
ELES traz-em
Tomando como raiz o {-traz}, na primeira pessoa do
singular identificamos uma alomorfia na raiz, que aparece como {-trag}.
Para
trabalharmos a questão dos processos morfológicos podemos analisar a palavra
desenfreada, onde foram adicionados os afixos {des-} (prefixo) e {-ada}
(sufixo). Podemos ver a adição da alomorfia do sufixo {-ada}, ou seja, o sufixo
{-ade} em outras palavras, como em: maternidade, eternidade, ou {-ado}, como em
inventado, exagerado, etc.
ESPERO QUE TENHAM GOSTADO! ATÉ A PRÓXIMA!